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8 de janeiro de 2021 - ed. 1515

Adeus ou até logo?
 

O ônibus do STJ chegou cedo no estacionamento do Centro de Ensino Fundamental 427, em Samambaia, para buscar os trinta alunos inscritos no programa de visitação à Corte, entre eles, o estudante Juliano Lima, de 13 anos. Ele conta que, assim que chegaram ao Tribunal, foram levados ao auditório externo para receber orientações sobre o passeio. Acompanhados da professora de matemática, Michele, conheceram inicialmente o museu e as salas de julgamento, tudo em clima de euforia e expectativa. Lá Juliano assistiu pela primeira vez a uma sessão, episódio que marcaria sua vida para sempre.

“Foi há 15 anos. Era uma espécie de tour escolar promovido para estudantes da rede pública de ensino do DF. Estava na sétima série e fiquei deslumbrado com a grandiosidade do lugar e sua importância para o cenário jurídico do país. Pensei: tenho que voltar!”, prometeu a si mesmo.

E, de fato, voltou. Em 2008, Juliano participou do processo seletivo, de nível médio, para estagiar no STJ. Após a aprovação, foi lotado por dois anos na Seção de Registro Contábil de Material. Mesmo estando em uma área administrativa, ele tinha a certeza de que o Direito era sua verdadeira vocação. Encerrado o estágio, o jovem aprendiz prestou vestibular para o curso que tanto sonhava e, depois de ser aprovado, continuou na Casa como terceirizado, a convite do próprio setor onde havia estagiado.

Mas o brasiliense Juliano queria mais e, quando o Tribunal abriu nova seleção para a contratação de estagiários – desta vez de nível superior –, correu para garantir a sua vaga. Assim, pôde permanecer no STJ por mais um ano, agora na Seção de Informações Processuais.

“Na época em que o contrato terminou, fiquei com aquele sentimento de que queria voltar. Em 2014, no último ano da faculdade, representei o DF no programa de visitação técnica realizado pelo STJ. Foram cinco dias de visitação. Conheci o órgão por um prisma inédito e amenizei a saudade da Casa. Mas ainda não foi o suficiente”, lembra.

O servidor

Ao se formar em Direito pela Universidade Católica de Brasília, o ex-estudante da escola pública de Samambaia se lançou em novos desafios, advogando e conquistando vagas em vários concursos públicos, como o do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT); do Tribunal Regional Federal - 1ª Região; e, por último, do STJ, para o cargo de analista, em 2018. Sonho realizado, Juliano passou dois anos trabalhando no gabinete da ministra Maria Thereza de Assis Moura, um período de aprendizado e muitas amizades. “Eu enriqueci com cada pessoa com quem convivi e cada processo que passou por mim.”

O servidor revelou que o tempo em que esteve no gabinete serviu para reacender sua velha paixão pela magistratura. Passou a estudar, em média, quatro horas por dia na Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, que afirma ser um excelente lugar, com ótima estrutura.

De segunda a sexta, antes de iniciar o trabalho no órgão, Juliano se debruçava sobre a mesa circular da biblioteca durante três horas, na parte da manhã, e uma hora após o término do expediente, às 19h (segue o link com a entrevista em que detalha sua forma de estudo).

Das maiores dificuldades encontradas nesse período de “clausura”, Juliano aponta duas: manter a disciplina, tendo que estudar inclusive nos dias em que não havia motivação para isso; e abrir mão do convívio com familiares e amigos, em ocasiões especiais como viagens, festas e feriados. Juliano é solteiro e não tem filhos; além disso, ninguém mais da família Lima optou pelo caminho do Direito.  

O juiz

Como disse o poeta Beto Guedes: “a massa que faz o pão vale a luz do seu suor”, os dias de luta de Juliano foram recompensados com a aprovação em dois concursos para juiz de direito. Após essa conquista dupla, o futuro magistrado se viu diante de um prazeroso dilema: jurisdicionar no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR) ou no do Estado de São Paulo (TJSP). Em outubro, Juliano tomou posse no TJPR, mas está aguardando sua nomeação para o TJSP, que deve ocorrer nos próximos meses.  

“Minha predileção foi por São Paulo, pois é mais acessível para vir ao DF visitar familiares, que ficaram em Brasília, e também receber visitas. A carga de trabalho é enorme, mas estou extremamente feliz e realizado com o desafio que estou enfrentando”, afirma o juiz de 28 anos.

Hoje, entre feitos da vara cível, fazenda pública, de acidentes do trabalho, registros públicos e juizados especiais, Juliano ainda encontra tempo para sonhar, quem sabe, com uma cadeira de ministro.

“O bom filho sempre volta à casa. Após tantas despedidas, sempre quis e consegui voltar ao STJ. Pode demorar um pouco (alguns anos, ou algumas décadas), mas espero retornar ao Tribunal como magistrado de carreira”, vislumbra o juiz de direito.

 

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