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6 de novembro de 2015 - ed. 275

Sob a regência do canto
 

Verdade seja dita: a música e o canto estão sempre presentes em nossa vida. Afinados ou não, cantamos ou ouvimos canções em diferentes momentos, como na infância, com as canções de ninar e as brincadeiras de roda; no trânsito, acompanhando as canções preferidas no rádio ou mesmo no chuveiro, com um cantarolar despretensioso.

Performances à parte, há quem leve o canto a sério e faça da prática uma importante realização como é o caso da servidora Maria Solange de Brito, chefe do Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos (LACOR/SED).

Eu, cantar?

Dona de uma voz bem posta e um olhar que transmite tranquilidade, Maria Solange foi apresentada ao canto em 2005, aqui mesmo na Casa. “Essa minha história começou no STJ, assim como outras ótimas coisas da vida que começaram no Tribunal, porque já trabalho aqui há 23 anos. Fui convidada por uma colega, hoje aposentada, a fazer parte do coral do STJ”. A reação ao convite foi imediata.  “Eu dizia ‘ah, eu não canto, não sei cantar, eu nunca cantei’. Mas o que a minha colega me respondeu foi que o coral aqui era qualidade de vida e que eu iria gostar. Então, eu fui e me encantei”, relembra a servidora com saudade. “Era um grupo que abraçava, tinha o pessoal da limpeza, assessores, técnicos, analistas, enfim, todos participavam do Corte em Canto, e era uma alegria”, narra a servidora, que viu sua rotina entrar em um novo compasso.

“Depois, a música começou a tomar conta de mim, a me invadir, e eu senti necessidade de aprimorar o meu canto. Eu cantava afinado, tudo certinho, mas não tinha técnica nenhuma. Então, eu procurei a Escola de Música de Brasília, onde fiz dois anos de canto erudito”, conta a colega.

Entre solfejos e partituras

Naquele ambiente impregnado de sonoridades, Maria Solange deparou-se com o que mudaria sua vida. “Lá na escola de música eu ouvi o coral da UnB, fiquei apaixonada e senti o desejo de cantar com eles. Então, fui até a UnB, fiz o teste, passei e comecei no coral, já em um projeto muito arrojado porque eles já estavam com um repertório vasto de 22 músicas, e eu não sabia nenhuma delas. Rapidamente, contratei um professor particular de canto para me ajudar a acompanhar o repertório e viajei com o coral da UnB no projeto França 2011”, relata.

Desafios prazerosos com a nova família, de cerca de 40 membros, levaram a servidora a eventos nacionais e internacionais de canto coral. Em outubro deste ano, Maria Solange participou com o coro da UnB de um concurso internacional de corais, na Grécia, de onde trouxeram três medalhas de prata para o Brasil, além de sentimentos inesquecíveis. “Em uma das nossas apresentações na categoria Sacro, a mais difícil porque a Europa é a mais refinada e também desejava a medalha, quando terminamos de cantar, nos abraçamos e choramos. A música sacra, dentro de uma igreja com estilo barroco, nos tocou tanto que não falávamos nada, porque ficou perfeito, foi mágico”, descreve a colega.

 

Notas do sucesso

Para Solange, cantar em um coral é algo que vai além de unir a própria voz às vozes dos demais. “É muito mais que cantar, é uma família, que te invade de uma forma espetacular. Primeiro vem a música que te arrebata, depois há o grupo que transcende e começa a fazer parte da sua história, são seus amigos, quase como irmãos”, alegra-se.

Ela reforça que a sintonia é fundamental. “Esse entrosamento, a preocupação do grupo em cuidar do outro, de se policiar, é o desenvolvimento de quem está ali dentro daquele conjunto", observa a colega que viu sua transformação vocal acontecendo gradativamente. "As minhas gravações no início da carreira dentro do coral da UnB são totalmente diferentes. Hoje sou outra pessoa como profissional da música. Minha voz mudou muito, comecei no coral do STJ como soprano, depois na UnB entrei como mezzo soprano, soprano dois e hoje já estou no naipe de soprano um, justamente por estar trabalhando essa voz. O cantor erudito, para fazer cada vez melhor, jamais pode deixar de estudar”, afirma a cantora.

Descobertas afinadas

Foi nesse universo que Maria Solange viu alguém muito especial encontrar a sua vocação.  “Foi a música também que levou o meu filho de 20 anos a ser violoncelista. Ele ia comigo aos ensaios, encantou-se, começou a estudar violoncelo e está se formando na UnB”, orgulha-se a servidora que também recebe os aplausos da família. “No início, meus pais e meus irmãos não acreditaram e perguntavam se eu estava conseguindo cantar ou só estava fazendo teatro”, sorri a colega ao contar. “Mas quando eles me viram cantar solo, sozinha, ficaram encantados. Meu pai acha lindo e me pede para cantar para ele”, relata satisfeita.

O crescimento musical alcançou outras dimensões e traz para ela um grand finale. “Principalmente com essa questão de viver em grupo, aceitar as limitações das pessoas, entender e respeitar as diferenças, as escolhas de cada um. Para mim é fantástico. A música nos mostra que é possível haver harmonia com um grupo de pessoas que têm uma afinidade em comum, que liga todo mundo pela afinidade espiritual, porque a música é a revelação do espírito”, inspira-se Solange.

No Tribunal, no desempenho de suas funções, Solange se sente como na atividade que a leva aos palcos. "Eu amo o que faço. A restauração de livros é uma atividade silenciosa, muito particular, de concentração, e a música ajuda a desenvolver melhor o trabalho. Deus é tão bom que me colocou aqui no LACOR, onde tenho a possibilidade de trabalhar o dia todo com música”.

Clique aqui e confira uma das apresentações do Coral da UnB. Os coralistas cantam "Cancion con todos".

 

Reportagem: Márcia Romão

Edição: Karla Bezerra

Foto: Sérgio Amaral e arquivo pessoal

 

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