“Eu amo o que faço! E me sinto privilegiada por ter encontrado tão jovem a minha profissão: ser a voz do surdo, fazer com que ele tenha acesso a conhecimentos que os ouvintes têm de forma tão fácil. Para mim, ser essa ponte é mais que um trabalho, é uma satisfação pessoal.” As palavras de Leydi Mendes, uma das intérpretes de Libras do STJ, traduzem o sentimento dos profissionais que ajudam a comunidade surda a se conectar ao mundo, por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Hoje o Tribunal conta com o apoio de doze intérpretes e tradutores de Libras que trabalham em sessões de julgamento, programas feitos pela TV, webinários, eventos – inclusive campanhas desenvolvidas pelas unidades, como no caso da Seção de Assistência Fisioterápica, que este ano lançou um vídeo com janela de sinais sobre dicas de saúde na pandemia. Esses “agentes da inserção social” conquistam espaços cada vez mais importantes na sociedade ao conferirem respeito e dignidade às pessoas surdas.
Traduzir e interpretar são conceitos que às vezes se confundem. O tradutor trabalha com textos escritos ou disponibilizados em vídeos e, normalmente, tem tempo hábil para fazer consultas e correções. A tradução está presente em alguns programas editados pela TV, por exemplo. Já o intérprete traduz em tempo real, assumindo riscos de falhas e imprevistos, muitas vezes fora do seu alcance. Como exemplo, temos a participação dos intérpretes durante as sessões. “Quando o surdo diz ‘entendi o que você falou sobre aquele processo’, é uma realização muito grande para nós”, recorda Leydi.
Preparar-se para o melhor
A intérprete e tradutora brasiliense, de 31 anos, trabalha com Libras há sete. Ela explica que os requisitos para o exercício da profissão envolvem graduação, capacitação e experiência comprovada – que, no caso do STJ, é de seis meses a um ano. Além de formação e habilidade, o trabalho exige fluência, ética, postura, espírito de equipe, conhecimento do contexto que será interpretado, troca de experiências, preparo prévio, entre outras condições. O Dia do Tradutor e Intérprete é celebrado no dia 30 de setembro.
A coordenadora de Acessibilidade e Inclusão (ACI), Simone Pinheiro Machado, lembra que o STJ disponibiliza outras ferramentas de apoio a pessoas com deficiência auditiva. Uma delas é o sinalizador de Libras Avatar, encontrado no site do órgão. O Avatar é um aplicativo que converte os conteúdos da internet em linguagem de sinais. Segundo Simone, o app (aquelas mãozinhas que aparecem no canto direito da tela) garante o acesso dessas pessoas aos conteúdos on-line.
“Esse recurso é feito para aqueles com deficiência completa, que não falam o português, que não são oralizados, pois existem surdos que são oralizados, ou seja, usam aparelho auditivo e conseguem amplificar e escutar a voz. Eles fazem leitura labial. Quem usa Libras não é oralizado, só entende a língua das mãos.”
A quem possa interessar
Simone adianta que, ao longo do ano, a unidade estará abrindo várias turmas, não só de nível básico, para quem quiser conhecer um pouco mais a Língua Brasileira de Sinais. “Os tradutores geram dignidade a essas pessoas em situação de deficiência auditiva completa. Elas se sentem parte de um todo, porque alguém conta para elas o que está sendo dito; é uma profissão de muita responsabilidade e doação”, destaca a coordenadora.
A prestadora de serviço Leydi Mendes admite que o “risco” de trabalhar com Libras é se envolver cada vez mais. “A gente normalmente começa sendo intérprete, de forma voluntária, trabalhando em igrejas, órgãos, palestras, apenas com o intuito de integrar os surdos; mas, depois, descobrimos que essa pode ser a nossa profissão, que podemos ser uma ponte de comunicação, a acessibilidade para essas pessoas”, orgulha-se a intérprete.