“A primeira coisa é acreditar na gente mesmo, no que podemos ser capazes de realizar. Aprender a administrar as situações que aparecem para que a nossa trajetória ocorra com menos obstáculos. Ter perseverança. Entender as limitações, sem se sentir diminuído. Assim, a gente consegue chegar a um lugar melhor na vida e realizar os objetivos”.
Os sábios conselhos são do servidor Luiz Lopes Batista, primeiro servidor com necessidades especiais a ingressar na Corte, que depois de 28 anos de dedicação ao Tribunal se despede da Casa.
Luiz passou a maior parte desse tempo (20 anos) na assessoria direta aos ministros, lotado nas Comissões Permanentes de Ministros (ACP). Antes, ele trabalhou na Coordenadoria de Imprensa e Conteúdo (CIMP/SCO), acompanhando as sessões de julgamento. Anteriormente foi servidor do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma trajetória de muita superação e sucesso, já que o servidor é cego desde a infância.
Luiz é casado e tem três filhos (Ticiane, Tiago e Tiessa) e um neto (Heitor). Dedicada, a esposa Rose o acompanha todos os dias no deslocamento para o trabalho.“Viver com o Luiz é uma experiência única. Nos conhecemos na faculdade e estamos sempre juntos. As pessoas pensam que eu trabalho no STJ”, disse Rose.
Pioneiro na Casa
A chegada de Luiz ofereceu ao Tribunal da Cidadania a oportunidade de iniciar diversas ações voltadas para a inclusão de pessoas com necessidades especiais. Uns dois anos após a sua posse, o Tribunal adquiriu licença de um programa de computador específico (o JAUS) para que o servidor tivesse autonomia de trabalho.
Aprovado em concurso público anterior à edição da Lei 8112/90, quando não havia previsão de vagas para portador de necessidades especiais (PNE), ele concorreu nas vagas normais para analista judiciário e teve uma excelente colocação. O servidor é prova inequívoca de que é possível ser bem-sucedido na vida, mesmo tendo uma limitação física grave.
Além do exemplo de superação, o amigo Fábio Dantas não esconde a sua satisfação em ter convivido com o colega por muitos anos.
“Luiz vai fazer muita falta, tanto pela sua competência, quanto pela excelente convivência. É um arquivo vivo da memória da Casa; conhece a fundo as composições das turmas julgadoras e as diversas legislações. Sempre ajudou a assessoria com sua sagacidade. É uma dádiva trabalhar com ele”, declarou.
Considerando as dificuldades que marcaram sua trajetória desde a saída do interior do Piauí, Fábio ressalta que Luiz foi um dos primeiros alunos a estudar em colégio especial em Brasília e a chegar ao ensino superior, onde cursou Direito.
“Todo dia é uma lição de vida. Ponderando todas as vicissitudes que Luiz teve na vida, chegar onde chegou, ocupando várias vezes o cargo de assessor de ministro, é muita superação”, assinalou o colega. “Ele trabalha como qualquer pessoa. Por um bom tempo, teve muitas dificuldades para se adaptar ao serviço, mas é muito independente. Inclusive faz as pesquisas de jurisprudência sozinho”, complementou Fábio.
Pé no chão e equilíbrio
A deficiência visual nunca foi impedimento real na conquista dos sonhos do aguerrido servidor de origem humilde, alfabetizado aos 16 anos, que se mudou para a capital e conquistou sua autonomia à custa de muito esforço. Sempre usou coletivos e frequentou a faculdade contando com o apoio dos colegas para superar desafios.
Luiz faz um balanço positivo da sua trajetória na Casa e diz não ter do que reclamar. “Tenho muita gratidão por tudo que tive aqui; a acolhida das pessoas e o apoio da administração. Até hoje tem coisas que não consigo fazer totalmente sozinho. Entretanto, a autonomia melhorou muito”, afirma.
Emocionado, ele abre o coração. “Sempre usufruí da gentileza das pessoas. Cuidam bem de mim, em casa e aqui. Eu vou sentir falta do trabalho, do convívio e sobretudo dos colegas mais diretos”, desabafa.
Para o futuro, os projetos já estão traçados. Vai descansar, cuidar do casamento da filha Tiessa e tirar a carteira da OAB, num primeiro momento. “Vamos ver as oportunidades que vão aparecer”, ressalta.
Ao ser questionado sobre suas qualidades, Luiz aponta a memória, o padrão de exigência e a versatilidade. “Aprendi a administrar bem tanto as adversidades quanto as boas situações. Pé no chão e equilíbrio são essências para as adversidades, que na minha situação, são mais nítidas. Para ir de um setor para outro, eu sempre fui preocupado. Deus me deu a visão de saber administrar bem as situações da vida”, disse.
A Corte agradece
Luiz foi homenageado na última sessão da Corte Especial, na última quarta (7). Palavras de gratidão e reconhecimento foram proferidas pelo ministro Mauro Campbell e pela ministra Presidente, Laurita Vaz, pelo trabalho dedicado à causa dos jurisdicionados nacionais, por meio do Tribunal da Cidadania.
O STJ sempre será a sua Casa, Luiz. Sucesso na nova fase da vida!
Fotos: Gustavo Lima