No segundo dia do VIII Seminário de Planejamento Estratégico Sustentável do Poder Judiciário, a diretora-executiva de Pesquisas Judiciárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Gabriela Soares de Azevedo, apresentou o 5º Balanço Socioambiental do Poder Judiciário, realizado com base em dados do ano de 2020. O painel foi mediado pela coordenadora de Gestão Estratégica e Sustentabilidade do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), Adriana Tostes.
Para Gabriela Azevedo, houve um impacto direto da pandemia da Covid-19, que diminuiu sensivelmente o consumo, devido ao teletrabalho e ao trabalho remoto. “Entretanto já víamos uma melhora nos indicadores no período pré-pandemia e hoje há uma tendência para o aumento nessas modalidades de trabalho. Possivelmente não voltaremos aos índices de 2019”, esclareceu.
O Balanço Socioambiental é realizado anualmente em todo o país. O documento recebe dados de 119 órgãos do judiciário, como tribunais, conselhos e outros. No total são 16 blocos de indicadores, entre eles estão consumo de água, papel e eletricidade, políticas de inclusão social e ações de reciclagem. Veja aqui o Balanço completo.
Histórico de insegurança
Na sequência, o painel ODS 2 e 12 - Impactos Socioambientais da perda e Desperdício de Alimentos (PDA), foi discutido pelo analista da EMBRAPA, Gustavo Porpino e pelo CEO do App Food Flow, Carlos Victor Mendes. O mediador do painel foi o chefe da Seção de Assistência Nutricional (SANUT/SIS), Aldemir Mangabeira. Segundo ele, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) pode ter um papel importante na sensibilização da administração pública. “O Brasil vive hoje uma grande contradição, com 116 milhões de pessoas em insegurança alimentar, mesmo sendo o maior exportador de alimentos do mundo”, opinou.
Aldemir recordou o histórico de insegurança alimentar que o Brasil passou no século XX. “Hoje temos um grande problema de obesidade, em parte pelo grande crescimento da indústria alimentar no país”, observou. Ele afirmou que uma alimentação equilibrada pode ser capaz de combater o desperdício de alimentos. “O consumidor deve comprar só o que realmente for usar, e evitar produtos excessivamente industrializados”, alertou.
O palestrante Gustavo Porpino ressaltou que a economia de alimentos está alinhada à aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (0DS) da Agenda 2030 da ONU, como ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), ODS 6 (Água Potável) e ODS 12 (Consumo e Produção Consciente). “Há um grande espaço para diminuir o desperdício em toda a cadeia de produção e consumo, com uma agricultura mais cuidadosa, menos embalagens, melhor acondicionamento de alimentos e consumo mais adequado”, explicou. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), na América Latina e no Caribe se desperdiça 11,6% dos alimentos, sendo que a média mundial é de 14%. Uma família brasileira desperdiça quase 130 quilos de alimentos por ano.
“Em 2013, houve um pico na segurança, com apenas 4,20% dos brasileiros em insegurança alimentar. Hoje, esse percentual passou dos 9%, especialmente no Nordeste e Norte”, disse Porpino.
Para o analista, políticas públicas são essenciais para mudar a situação e citou a Lei 14016 de 2020, voltada para o combate ao desperdício de alimentos e a doação de excedentes de alimentos para o consumo humano.
Iniciativa Positiva
Para o segundo palestrante, Carlos Vitor Mendes, as empresas, Startups e empreendedores podem contribuir para o desperdício de alimentos. “Nosso site permite formar uma rede de fornecedores e restaurantes que vendem alimentos perto da data de vencimento para consumidores”, explicou.
Ele lembrou que a cultura brasileira tem duas características contrárias. Uma é a de não desperdiçar alimentos e a outra é de ter uma alimentação com fartura. “Nossa ideia é usar essas características e a tendência do brasileiro de cuidar dos outros”, disse.
Segundo o palestrante, o desperdício de comida na América Latina acontece 28% na produção e 28% no consumo, por isso, essas inciativas podem diminuir esses percentuais. “Posso citar outras empresas que seguem a mesma ideia da Food Flow, como a Fruta Imperfeita, a Comida Invisível e a Du Local.
O dia foi encerrado, com a palestra do painel Histórias que Transformam, com a servidora do TJDFT Marilene Silva, que já foi catadora de latinhas. Ela contou que o sonho começou com o pai, servidor público. “Eu casei com 18 anos e comecei a trabalhar como doméstica. Mas com os filhos, perdi esse emprego e comecei a catar latas”, disse. Segundo ela, o dinheiro não dava nem para comprar comida. Mesmo assim ela lutava e continuou a estudar.
Ela recordou que para pagar a inscrição do concurso, teve que pegar dinheiro emprestado com amigos e vizinhos. “Eu fiz a prova com confiança, mas depois não tinha certeza de que iria passar. Quando eu vi meu nome, quase não acreditei”, afirmou.
Hoje, Marilene estuda Libras para ajudar a inclusão de outras pessoas na sociedade.
Para saber mais – www.semdesperdicio.org.