“Um momento em que você se desconecta com o mundo e se conecta com você mesmo, em um ambiente que é sua extensão com a natureza, que faz parte de você”. Dessa forma a chefe da Seção de Assistência Fisioterapêutica (SEFIS/SIS), Daniele Sales Maia, descreve a sensação de praticar Canoa Havaiana.
Em 2017, a equipe da qual Daniele faz parte ganhou o Campeonato Brasiliense de Canoa Havaiana e, em 2018, ficou entre as dez primeiras colocadas no Campeonato Mundial de Canoa Havaiana, realizado no Taiti. A equipe também realizou travessias no mar, como a do trecho entre Salvador e Morro de São Paulo.
Daniele, que sempre gostou de esportes, teve o primeiro contato com a atividade quando avistou praticantes no Lago Paranoá. Ela comentou com um colega sobre a vontade de fazer algum esporte aquático.
“Esse colega nadava lá, comentou que estava fazendo Canoa Havaiana e me chamou para uma aula experimental. Fui um dia, no final da tarde, e me apaixonei. O contato com o lago, o pôr do sol, o silêncio... Você não pode conversar, não pode ouvir música. É preciso ter concentração e controle de respiração, então eu falo que é uma meditação ativa”, afirma a servidora.
Segundo Daniele, o esporte é relativamente novo no Brasil, chegou nos anos 2000, e em Brasília há, no máximo, dez anos. A servidora começou a prática em 2015 e depois integrou a equipe para competir.
Superação
A canoa tem seis lugares, de 13 a 15 metros de comprimento e pesa cerca de 120 quilos. Cada integrante da equipe exerce uma função de acordo com o seu banco na canoa. O atleta número um determina a cadência, ou seja, precisa ter um bom condicionamento para definir a velocidade da remada. O banco dois deve manter o ritmo. “Se o banco dois estiver batendo diferente do banco um, o movimento para trás vai degringolar”, esclarece Daniele.
Os lugares três e quatro são chamados bancos de força, enquanto o cinco e o seis são os bancos de leme. “A pessoa que está no último banco fica com o remo fazendo a função de leme, vendo para onde a canoa vai. Nesse contexto, há uma analogia com o ambiente de trabalho, em que cada um sabe o que fazer, respeitando o limite do outro”, compara Daniele.
Apesar de ter praticado outros esportes, Daniele afirma que a competição não estava em seus planos. “Eu nunca fui de competir. Quando deu uns 15 minutos de prova, achei que ia morrer. Mas pensei: eu não posso fazer isso, porque senão, vou atrapalhar as colegas. Pensando na canoa como um todo, eu consegui superar meu limite”, recorda.
Mundial no Taiti
Em 2017, a equipe ganhou o Campeonato Brasiliense, que é composto por três etapas. Na edição de 2018, elas venceram duas etapas e, portanto, podem ser consideradas bicampeãs. Também realizaram a travessia Salvador - Morro de São Paulo, uma distância de 60 quilômetros, no tempo de seis horas e oito minutos, sem parar de remar, e participaram de outros circuitos como o AlohaSpirit, Kopa e Rio Va’a, também ficando entre os 3 primeiros colocados.
Depois de treinar para a seletiva mundial, a equipe foi classificada e entrou para o programa do Governo Federal de incentivo ao atleta amador e profissional, Compete Brasília. “Foram duas provas: uma de velocidade, 500m, e outra de 1.500 m de curva de boia. A cada 250m era preciso usar técnica e força para fazer a canoa mudar de direção”, recorda a atleta.
O resultado para o Campeonato Mundial, realizado no Taiti, saiu muito próximo da data da viagem, que teve as passagens patrocinadas pelo Compete Brasília. “Quase fiquei louca para organizar trabalho, casa, filho, para deixar tudo pronto para viajar. Acabou dando tudo certo porque trabalho com uma equipe que apoia, torce, vibra”, frisa a atleta.
O Mundial aconteceu entre os dias 16 e 30 de julho de 2018 e a equipe de Daniele ficou em primeiro lugar em uma das baterias. “A gente ganhou de países com tradição na Canoa Havaiana. Foi uma emoção, quase não acreditamos. Lembro que lá no Taiti, a gente andava muito de carona porque não tem uber, táxi nem ônibus. Uma pessoa que nos deu carona comentou a grande vitória do Brasil, que ganhou pela primeira vez uma bateria. Quando falamos que éramos nós, ela falou: ‘Não acredito que estou com as campeãs!’”, lembra Daniele.
A equipe saiu na capa de um jornal do Taiti. Segundo Daniele, o campeonato mobiliza Papeete, cidade onde ocorreu a competição. “Você vai a um supermercado, por exemplo, e as pessoas estão acompanhando as competições pela TV. O mesmo acontece nas ruas, nas casas. A canoa realmente é o futebol deles. Foi uma experiência riquíssima, que nunca vou esquecer”, esclarece.
Incentivo ao esporte
Daniele, que trabalha com reabilitação, incentiva a prática de educação física. “Descobrir uma atividade de que você goste, com a qual tenha afinidade, fará com que a motivação apareça. Às vezes, as pessoas que fazem a reabilitação falam que não conseguem andar nem sentar. Eu falo que o pessoal do Cirque du Soleil não nasceu sabendo fazer o que eles fazem, é treino”, garante a atleta.
Para Daniele, a questão da idade também não deve ser obstáculo para quem pretende iniciar uma nova atividade. “Eu comecei na canoa com 41 anos. Com 44 anos, eu estava em uma competição mundial. Nos prendemos a conceitos e nos limitamos a crenças que acabam paralisando a gente. Por que não posso fazer algo diferente? Por que não posso me desafiar?”, instiga a atleta.